Je repars à zéro!

Piaf demorou muito tempo para descobrir a frase libertadora. Ela chega cedo para alguns, mas para outros demora quase o tempo de suas vidas: o mundo não te deve nada! Não importa o que tenha sucedido e se em suas voltas ele lhe trouxe e roubou alegrias e te causou desassossego. Tem sempre a chance de “je repars à zero” e descobrir que a vida é feita de atos, que começam e terminam, e, ao final, formam um espetáculo completo, mas não ininterrupto.

E não é só o passado desolador, como o foi o dessa brilhante cantora, que faz cárcere. O passado feliz também. Ou então, a Sofia de Alan Pauls, em El pasado não teria desenvolvido aquela louca obsessão por Rímini. Apegamos ao que tivemos de concreto: a alegria ou a melancolia, o tempo feliz, ou o sofrimento, seja como tenha sido o desenrolar de nossa história.

Ainda que neste ato o público não nos tenha parecido tão satisfeito, e a performance não tenha sido a mais comovente, a incerteza do desconhecido da próximo cena pode interromper muita história boa pela metade.

Transpor-se para o próximo ato é uma atitude de coragem. Pode-se não mais ouvir o aplauso da platéia. Poderão ate acontecer vaias. Um roteiro nem sempre agradará a todos. Pode ser a história da vida de alguém, ou uma simples distração na vida de outro. Pra uns pode até soar como comédia, ainda que seja um grande dramalhão. Nada, entretanto, dará maior satisfação, que ter ignorado a expectativa de seu próprio expectador interior e chegar ao fim da peça podendo dizer: Non, je ne regrett rien! La vie en Rose!

Non!
Rien de rien...
Non !
Je ne regrette rien
Ni le bien
Qu'on m'a fait,
Ni le mal,
Tout ça m'est bien égal !
Non!
Rien de rien...
Non !

C'est payé,
Balayé,
Oublié,
Je me fous du passé !
Avec me souvenirs
J'ai allumé le feu,
Mes chagrins, mes plaisirs,
Je n'ai plus besoin d'eux !

Balayé les amours,
Avec leurs trémolos,
Balayés pour toujours
Je repars à zéro...

Non!
Rien de rien...
Non !
Je ne regrette rien
Ni le bien
Qu'on m'a fait,
Ni le mal,
Tout ça m'est bien égal !
Non!
Rien de rien...
Non !

Car ma vie,
Car mes joies,
Aujourd'hui,
Ça commence avec toi!