Hein?!! Dá pra falar mais alto?

Se é verdade que a curiosidade matou o gato têm muita gente correndo o risco de morte por aí. Eu sou uma dessas pessoas. Talvez encabece a fila. Estou admirada com o nível que este estado atingiu em minha vida.

Sou daquelas pessoas que ao sentarem no banco do ônibus, do metrô, não conseguem simplesmente pensar na sua própria vida, ouvir um som, admirar a paisagem. Não!Definitivamente, não! Aliás, esses são lugares quase perfeitos para o meu vício. Adoro ouvir a conversa alheia, de gente desconhecida. Melhor ainda se ela estiver pela metade. Nesses casos posso ficar imaginando do quê se trata e, daí, a brincadeira fica bem mais divertida. Já descobri casais de amantes se encontrando escondido em cafeterias, já ouvi história cabeluda de senhorinha tramando contra o próprio marido, articulando para filar alguns reais de sua carteira... Sim, aposto que você não imaginava que uma senhorinha de quase oitenta anos ainda pudesse fazer isso! Nem eu! Mas eu só descobri graças ao bom e péssimo hábito de ouvir sem participar da conversa. Dessa vez, na fila do supermercado.


Sofri muito quando fui à França. Pensa só, todo dia tinha metrô, tinha fila na porta de museu, tinha espera de mesa em restaurante, tinha mesinha colada em cafés! Ai! Prato cheio, não? Claro, se eu entendesse alguma coisa em francês além de bonjour e merci! Que martírio! Lembro-me que ao voltar do Castelo de Versalhes, bem na minha frente, no trem, havia um casal de franceses lindos que pareciam ter saído da cena de um filme. Conversavam sem parar. Na verdade cochichavam. Mas nada que a proximidade dos apertados trens franceses não resolvesse. Além do papo, trocavam beijos e abraços. O garoto era mais atirado e ela um tanto quanto ressabiada com os carinhos em público. O fato é que me pus louca de curiosidade para saber daquele enredo que parecia bastante interessante. Não me perdôo!


Agora, a minha grande novidade é o meu endereço atual: um apartamento! Nunca tinha morado numa habitação coletiva e passei a compreender com exatidão esse termo. É coletiva mesmo! Valha-me, Deus! A garagem denuncia tudo: quem saiu, quem já chegou, quem dorme até tarde, aqueles que trocam de mulher como de roupa, etc, etc, etc. Já pensaram na quantidade de conversas das quais participo como ouvinte intrometida ao subir e descer, todos os dias, até o 20º andar? É muita informação! Estou ficando maluca! E quando a pessoa desce antes de você na melhor parte? E quando você desce e ela ainda fica? Socorro! Eu sofro! A curiosidade ainda me mata!