Se encantou pela cor...

Eu sempre tentava acalmar a vida quando ela seguia muito cítrica, mas foi quase sempre assim: o alaranjado das inquietações misturado com o verde – limão das dúvidas! Doía a vista que nem dia ensolarado! Na aquarela, de tanto querer tons mais pastéis, muitas vezes passei em branco. Esse não doía o olhar, doía à alma mesmo, e em branco ela implorava por vermelho, rosa, os dois. Mas não era pra esses tons que o branco migrava.

Com o passar do tempo ele cedia, vinha o cinza – confesso que já vi temporariamente o negro – depois de umas fortes pinceladas nascia o amarelo, e de novo o laranja, e de novo a roda viva das confusões. Sem meio termo, sem mais ou menos. Oito ou oitenta.

Até que um dia me meti muito a sério com o lilás. E ele comigo. Intermediário. Mistura de azul, branco e rosa. Temperado. Primeiro foi o tapete. Depois uma gravura. Algum tempo depois as almofadas. E quando eu menos percebia era ela a cor que mandava na minha vida.

Longe do arco – íris deformado do passado, não sei se lilás é a cor certa, é às vezes calma demais, sossegada demais, monótona demais... Mas como não defender a lavanda quando nela todas as outras cores se conformaram? Decido. É ela o meu plano de fundo, é com ela que desejo montar as próximas combinações.