domingo, 11 de novembro de 2007

Amor líquido. Parte I

Incontro. Rendez-vous. A date. Encontro. Até ouvir sobre aquela idéia, imaginava que italianos e franceses; ingleses e brasileiros; ricos e pobres; todos buscavam o mesmo, aquietar-se seguro com a descoberta do amor, em sua própria língua e maneira de ser. Mas, não. Aquele autor tinha sido líquido e certo. Em matéria de amor, a modernidade líquida caminha para o estado gasoso das relações e quanto mais se diz entendida e preparada para ele, mais distante está.

Construção e desconstrução. Foi isso que aconteceu. Desde que me entendo por gente, sou uma observadora das relações, especialmente, das amorosas. Talvez no afã de aprender algo com o que vejo e, acertar, finalmente, na minha escolha, aquela que trará um amor sólido. Trocadilhos à parte, quando li o título do livro, fiquei extremamente curiosa. Já havia manifestado o meu descontentamento sobre as relações, não só amorosas, que andam superficiais e passageiras. Achei que ali encontraria uma resposta. Negativo. Achei muitas perguntas. E eu acabo de começar a ler o livro.

Quando já se sofreu por amor, a tendência é não repetir o mesmo erro, e, já que ninguém está interessado em ficar só, inicia-se a busca incansável pela solução que garanta, ao mesmo tempo, estar se relacionando e, com o mínimo risco possível de sofrimento. É a segurança da não-relação. A definição pra essa estratégia foi citada pelo livro como relacionamento de bolso. Muito feliz, diga-se de passagem, para conferir-lhe a instantaneidade que lhe é atribuída: “Pode-se lançar mão dela quando lhe for preciso”. “Não se deixe dominar nem arrebatar, e acima de tudo não deixe que lhe arranquem das mãos a calculadora”. “Quanto menor a hipoteca, menos a inseguro você vai se sentir quando for exposto às flutuações do mercado imobiliário futuro. Mantenha o bolso livre e preparado. Logo vai precisar por alguma coisa nele e cruze os dedos, você vai conseguir”.

Com a dedicação às regras do jogo, a relação de bolso trará resultados cartesianos. “Ao contrário dos relacionamentos antiquados, elas parecem feitas sob medida para o líquido cenário da vida moderna, em que se espera e se deseja que as possibilidades românticas surjam e desapareçam numa velocidade crescente e em número cada vez maior, aniquilando-se mutuamente e tentando impor aos gritos a promessa de ser a mais satisfatória e a mais completa”. O importante é pôr-se em movimento e utilizar de cada encontro, o melhor dele. O problema é que ”Estar em movimento, antes um privilégio e uma conquista, torna-se uma necessidade. A facilidade do desengajamento e do rompimento a qualquer hora não reduzem os riscos, apenas distribuem de modo diferente, junto com as ansiedades que provocam”. Enfim, a relação de bolso é uma armadilha, frouxas se tornam não só suas conexões amorosas, mas, também, suas demais relações.

Até aí tudo bem, como num check-list, elimina-se a alternativa incorreta e parte-se para as posteriores. O problema é que, em se tratando de amor, não há a alternativa correta. Não se aprende sobre o amor. Eu ainda não cheguei à página cinqüenta do livro, mas o sociólogo que o escreveu já me assegurou com total propriedade que “quando se trata de amor, posse, poder, fusão e desencanto são os Quatro Cavaleiros do Apocalipse”. Suspiro e tomo um café. E agora, José? Sólido, líquido ou gasoso?


Trechos do livro AMOR LÍQUIDO de Zygmunt Bauman

4 comentários:

Anônimo disse...

Ai, que medo...

Bailarina disse...

Isso porque vc não assistiu El pasado! Tô exausta. É muita informação. Quero falar abobrinha!

O Estupidista disse...

O Nelson Rodrigues já dizia: "Todo desejo se frustra com a posse". O fato é que as relações líquidas são pautadas por impulso e desejo. O amor, segundo o Bauman, não é nada disso. A paixão, o desejo, são instintivos. O amor é consciente. O desejo é auto-destrutivo: assim que vc. obtém o que quer, ele morre e tem de se renovar, provocando a constante substituição.
O amor nada mais seria, então, que a vontade consciente de preservar o laço criado com alguém de quem a paixão nos fez aproximar. Ter consciência da baixa eficácia da constante substituição e realmente querer compartilhar e tornar eterno o que, por instinto, não o seria. Amor é vontade ou, como diria o Chico Buarque, é sacerdócio, é sacrifício.
"Pra se viver o amor há que esquecer o amor", diz a canção. Deve-se amar como um funcionário.
Parece feio, mas se vc. pensar bem, não é.

Bailarina disse...

Só tendo carteira assinada, então! Rs