Dormiu com as janelas abertas. Não é uma novidade. A cortina entreaberta como sempre. Novo foi acordar na madrugada sentindo frio, ou melhor, sentindo necessidade de se cobrir. O calor andava consumindo suas noites. O vento era suave, mas dava para arrepiar o corpo despreparado. Logo começou a chover. Olhou o relógio, pouco mais de cinco horas. Despertou. Adora ouvir o barulho da chuva no silêncio e escuro da noite. Abriu as cortinas e continou ali deitada na cama. O infusor ainda tinha um restinho de fogo e o quarto cheirava hortelã. Cenário perfeito para a nostalgia.
Ela tem nostalgia daquilo que não viveu. Tem saudade de diálogos travados só no seu pensamento. De feições que viu. De gargalhadas ouvidas nessas horas lúdicas da sua imaginação. Imagina respostas às perguntas que faz e tem o trabalho de torná-las coerentes com a realidade, embora tudo se trate de sonho. As suas horas de levitação entre o mundo real e a fantasia são preciosas.
O dia seguiu fechado, pra combinar com a sensação da moça. A chuva vai e vem. O trabalho não rende. A lembrança ainda está forte em seu pensamento, ainda que só tenha existido lá. Fazia tempo que ela não incomodava sua paixão platônica. Estava lá, guardada na sua caixinha de retalhos.
Estava feliz, como se, de fato, tudo que pensou acordada tivesse feito parte daquele final de noite. De tão intenso o sentimento, imaginou que uma pontinha daquela invenção tivesse sido sentida por seu objeto de platonismo. Ledo engano. Ele também continuou lá, distante, alimentando seus delírios.
Ligou o som, tocava um disco de samba, a letra não poderia ser mais pertinente, era o que ela certamente teria dito, mas, só em pensamento.
Num corpo só.
Arlindo cruz (Em samba meu, Maria Rita)
Eu tentei,
mas não deu pra ficar
sem você
enjoei de tentar
me cansei de querer encontrar
um amor pra assumir teu lugar
é muito pouco,
vem alegrar o meu mundo que anda vazio
me deixa louca
é só beijar tua boca
que eu me arrepio, arrepio, arrepio
e o pior
é que você não sabe que eu sempre te amei
pra falar a verdade eu também nem sei
quantas vezes sonhei
juntar teu corpo, meu corpo
num corpo só
vem!
se estiver acompanhado, esquece e vem
se tiver hora marcada,
esquece e vem
venha ver a madrugada e o sol que vem
que uma noite não é nada
meu bem, vem!
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2 comentários:
Bailarina, vc sabe o que acho dessa canção....Adorei!!! Aprendi a cantar desde a primeira vez em que ouvi...
É uma cançao que muita gente gostaria de cantar no ouvidinho de alguém, não? Ouvidinhos bobos esses que não nos ouvem...
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