domingo, 10 de agosto de 2008

As meninas




Não me contive em compartilhar esse trechinho das meninas, de Lygia Fagundes Telles, que é a minha face:


"Pego as xícaras. Os pratos. Trago a cestinha de pão com a fita vermelha entrelaçada por entre a tessitura da palha, dando a volta toda até o encontro das pontas para o laço. Fico admirando a graça do estampado da toalha com suas grandes folhas de uma tonalidade verde-quente por entre as quais espia meio escondido o olho asiático de uma ou outra laranja. O prazer que encontro nesse simples ritual de preparar o chá é quase tão intenso quanto o de ouvir música. Ou ler poesia. Ou tomar banho. Ou ou ou. Há tantas pequeninas coisas que me dão prazer, que morrerei de prazer quando chegar a coisa maior."

2 comentários:

Carol Nogueira disse...

Ai, já te contei que este é o livro da minha vida? Tenho tantas partes preferidas que sei encontrar de cor (depois de quatro meses pensando dormindo e acordando As Meninas pro memoire) que não sei qual escolher pra te mostrar. Escolhi essa, mas poderia ter sido outras quinze.

"As poltronas da sala coberta com plástico. A televisão. A novela de gente rica e a novela de gente pobre, os pobres mais sinceros mas com muito mais problemas. Solucionados parcialmente nos últimos capítulos onde a virtude é recompensada. Embora dois dos cínicos fiquem impunes, tinha gente demais. O conformismo só é turvado pela ambição de um carro novo e de uma TV maior, a cores, ô, mas não era um esquema parecido que desejei há pouco quando vi a Gata? Minha cara se tinge de vermelho quando me imagino puxando Miguel (ou Beto!) pra vitrina da liquidação de inverno. Fechando-o, gastando sua força e paciência com as quinquilharias do cotidiano, recusando a palavra de ânimo no seu dia de desencanto, presença negativa, não!"

Bailarina disse...

Carol, eu nunca li livro algum sublinhando nada, com exceção dos jurídicos. Mas esse eu não consegui, e volto sempre pra ler esses trechinhos que eu marquei. Muito bom! Beijo